Eu criei um bichinho dentro da minha casa e da minha vida. O nome dele? Descontentamento.
Chegou tímido, ficava a maioria dos dias escondido, aparecia bem as vezes, mas não perdurava, não tinha força o coitado.
De uns tempos pra cá, não sei de que ele se alimentou, o bicho cresceu e ficou aqui, do meu lado. Em tudo que eu fazia lá estava ele, me olhando, me instigando, fazendo com que questionasse coisas impossíveis de serem questionadas, coisas que deveriam ser sempre afirmadas, sem ninguém rebater ou debater.
E eu me apeguei ao descontentamento. Trouxe ele pra mais perto de mim, cada dia mais, de um jeito que nada do que eu fazia e/ou sentia escapava a seus olhos. Nada estava completo sem o descontentamento lá dando sua opnião desgostosa, se fazendo ouvir, se fazendo sentir.
Hoje eu acordei e esqueci dele. Passaram-se horas e o bicho sumiu. Parei no meio do corredor da minha casa, olhei pra janela, respirei fundo e sorri. Sorri pro nada... percebi que o meu companheiro dos últimos meses estava ali, num cantinho, sem forças de novo, me olhando assustado , distante, com medo de chegar perto do meu sorriso.
Por isso hoje eu sorri mais. Por isso hoje eu enfraqueci esse sentimento que se alimenta da falta do meu sorriso e das batidas desritmadas de um coração infeliz.
Por isso hoje eu deixei o descontentamento ali de lado, sem forças. Virei as costas e segui em frente, sem olhar pra trás e deixar rastros de tristeza para que ele me encontre de novo...